E hoje, do cemitério diretamente
para o mundo das fitas demo gravadas por bandas underground, vamos visitar “Meu
Amigo Coffin Joe”, da finada banda mineira BrainEaters.
Antes de continuar de fato
analisando as canções cabe aqui uma palavra sobre o conceito de “demo” e como
no horror punk esse conceito é tratado de forma um pouco diferente pela cena.
Os registros “demo” (de “demonstração”)
são registros que as bandas gravam no intuito de terem um material de
apresentação, especialmente para gravadoras e possíveis pessoas interessadas em
apoiar o grupo de alguma forma. Nas décadas passadas, era uma das principais
formas que os conjuntos tinham de ganhar visibilidade junto às gravadoras.
O mundo fonográfico mudou muito
com a chegada dos anos 2000. A forma como as demos do passado são abordadas
hoje deve ser diferente. E acredito que a cena Horror punk, tanto nacional
quanto lá fora tem essa visão. As bandas de horror punk já lançaram e ainda
lançam muito material nessa pegada, e isso é muito bom.
É muito bom escutar material lançado
como “demo”; essas músicas, ainda que quase sempre com sérias restrições orçamentárias
e de produção porca mostram muita energia, garra e pegada, o que muitas vezes
se perde dentro de um estúdio, quando o profissionalismo as vezes acaba por
deixar o som das bandas um pouco mecânico, preso, sem aquela energia que o
horror punk pode ter.
Agora sim, vamos ao BrainEaters.
Temos aqui 4 faixas, gravadas em
2003.
A qualidade das gravações é muito
boa. Não só não compromete, como consegue destacar todos os instrumentos de
forma digna. Nenhum integrante foi prejudicado pela produção, e isso é de uma
importância fundamental.
Musicalmente falando, o
BrainEaters segue uma linha mais melodiosa, principalmente na voz. Uma voz
limpa, com melodias distintas. Cumpre bem o papel, mantendo uma afinação
constante e com uma dicção bacana.
Os backing vocal são discretos,
mas bem pontuados e colocados em trechos onde a música realmente pedia. O instrumental
já é um pouco mais agressivo, e acho que o contraste entre a guitarra mais
nervosa com o vocal mais suave é uma característica que funciona muito bem.
Na música “O Ataque dos Vermes
Malditos” eles potencializam essa dicotomia, e os resultados são maravilhosos.
A última música “Cowboys do
Inferno” (seria uma referência ao Pantera?), a banda flerta com o country, mas
mantendo as características anteriores.
Aliás, um destaque vai para a
gaita tocada na introdução e ao longa da canção. Bem tocada, com notas
precisas. A gaita talvez seja o instrumento mais mal utilizado de maneira geral
na história da música. A pseudo “facilidade” de tocar o instrumento
constantemente leva as pessoas a pensarem que é fácil encaixar uma gaita em
estilos que não seja o blues, e isso tem gerado alguns momentos tenebrosos no
horror punk, no mal sentido. Mas não aqui.
Nessa música a gaita aparece sob
medida.
Também vale ressaltar o trabalho
de bateria nessa canção, muito técnico e preciso.
Enfim, um material que tem altas
qualidades, e sempre será o registro de uma banda competente, que tocava com
energia e competência.
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