23 de abril de 2021

BrainEaters: Meu Amigo Coffin Joe - Resenha

 

E hoje, do cemitério diretamente para o mundo das fitas demo gravadas por bandas underground, vamos visitar “Meu Amigo Coffin Joe”, da finada banda mineira BrainEaters.



Antes de continuar de fato analisando as canções cabe aqui uma palavra sobre o conceito de “demo” e como no horror punk esse conceito é tratado de forma um pouco diferente pela cena.

Os registros “demo” (de “demonstração”) são registros que as bandas gravam no intuito de terem um material de apresentação, especialmente para gravadoras e possíveis pessoas interessadas em apoiar o grupo de alguma forma. Nas décadas passadas, era uma das principais formas que os conjuntos tinham de ganhar visibilidade junto às gravadoras.

O mundo fonográfico mudou muito com a chegada dos anos 2000. A forma como as demos do passado são abordadas hoje deve ser diferente. E acredito que a cena Horror punk, tanto nacional quanto lá fora tem essa visão. As bandas de horror punk já lançaram e ainda lançam muito material nessa pegada, e isso é muito bom.

É muito bom escutar material lançado como “demo”; essas músicas, ainda que quase sempre com sérias restrições orçamentárias e de produção porca mostram muita energia, garra e pegada, o que muitas vezes se perde dentro de um estúdio, quando o profissionalismo as vezes acaba por deixar o som das bandas um pouco mecânico, preso, sem aquela energia que o horror punk pode ter.

Agora sim, vamos ao BrainEaters.

Temos aqui 4 faixas, gravadas em 2003.

A qualidade das gravações é muito boa. Não só não compromete, como consegue destacar todos os instrumentos de forma digna. Nenhum integrante foi prejudicado pela produção, e isso é de uma importância fundamental.

Musicalmente falando, o BrainEaters segue uma linha mais melodiosa, principalmente na voz. Uma voz limpa, com melodias distintas. Cumpre bem o papel, mantendo uma afinação constante e com uma dicção bacana.

Os backing vocal são discretos, mas bem pontuados e colocados em trechos onde a música realmente pedia. O instrumental já é um pouco mais agressivo, e acho que o contraste entre a guitarra mais nervosa com o vocal mais suave é uma característica que funciona muito bem.

Na música “O Ataque dos Vermes Malditos” eles potencializam essa dicotomia, e os resultados são maravilhosos.

A última música “Cowboys do Inferno” (seria uma referência ao Pantera?), a banda flerta com o country, mas mantendo as características anteriores.

Aliás, um destaque vai para a gaita tocada na introdução e ao longa da canção. Bem tocada, com notas precisas. A gaita talvez seja o instrumento mais mal utilizado de maneira geral na história da música. A pseudo “facilidade” de tocar o instrumento constantemente leva as pessoas a pensarem que é fácil encaixar uma gaita em estilos que não seja o blues, e isso tem gerado alguns momentos tenebrosos no horror punk, no mal sentido. Mas não aqui.

Nessa música a gaita aparece sob medida.

Também vale ressaltar o trabalho de bateria nessa canção, muito técnico e preciso.

Enfim, um material que tem altas qualidades, e sempre será o registro de uma banda competente, que tocava com energia e competência.


 

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