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1 de maio de 2021

Entrevista com Pata de Cachorro

 




ZC - Galera, contem como foi feita a escolha do nome da banda. Alguma história curiosa a respeito da escolha? 

A escolha do nome não foi nada muito especial. O nome surgiu bem antes da criação da banda, por volta de 2012. 


Nosso baixista Grotesco e o Duf, fotógrafo e grande amigo da banda, estavam em um rolê com mais alguns amigos. Eles estavam passando os canais da TV, quando colocaram em um que estava rolando uma apresentação de alguma banda. Um dos amigos, que estava muito louco, olhou pra tela e falou: "Pata de Cachorro, que banda é essa?" (no caso, PATA DE CACHORRO foi uma exclamação, tal qual AVE MARIA ou qualquer outra). A cena foi tão cômica que, daquele momento em diante, foi decidido que um dia seria criada a Pata de Cachorro. 


Em 2017, após uma reunião entre Duf, Grotesco e Carniça, guitarrista da Pata, encontramos Adonis, nosso primeiro baterista. Assim, a banda foi formada. Já no primeiro ensaio, compusemos a faixa título do nosso EP, Alienação Animal, com letra do Duf. 

ZC - Quais são as principais características do som da banda? 

A banda é composta de três membros, baixo guitarra e bateria, com o vocal revezado entre todos os integrantes, sem um vocalista fixo. Seguimos a temática do horror. Então, nossa característica sonora tem uma atmosfera sombria e agressiva, mas sem se limitar somente às caracteríticas do punk, trazendo elementos de outros estilos como o thrash, death, heavy metal e outros. 


Por sermos um power trio, procuramos fazer a parte instrumental de uma forma que os três instrumentos consigam se destacar em cada música, com solos não só de guitarra, mas também de baixo e de bateria em algumas faixas. Não nos preocupamos em seguir uma estética musical na hora de compor. A criação sai de acordo com a sensação que queremos passar, gerando composições às vezes bem diferentes umas das outras. Para isso, muitas vezes utilizamos as três vozes, com características bem diferentes, escolhendo o vocal de cada faixa. 

Na temática das letras, utilizamos histórias e elementos do folclore regional e nacional, mas sem nos limitarmos a esse tema, trazendo também outras fontes de inspiração, sempre dento dos elementos do Horror. 

ZC - Quais bandas nacionais e internacionais vocês apontariam como influência direta no som de vocês? 

Temos o costume de pegar influência de todas as bandas e músicas que ouvimos, sempre procurando adaptar para o estilo da Pata de Cachorro. Mas podemos citar como as bandas principais: Misfits (claro), Bad Religion, Ramones, Zumbis do Espaço, Death (a banda), Black Sabbath, Candlemass e King Diamond. 

ZC - Quais seriam as 5 bandas que vocês chamariam para um "Pata de Cachorro Festival" no ano que vem?

Com certeza, chamaríamos 3 bandas nacionais de Horror que gostamos muito: Nardones, Difunteria e Sertão Sangrento. 

As outras duas, seriam nossas parceiras de Campo Grande: Vermes e Darhew. 

ZC - Falem um pouco sobre o single novo de vocês. 

O single é intitulado SantaPaz e conta uma história de ficção, representada por um homem que foi corrompido pela influência maligna de Satanás (nome da música desse trabalho) e, sem nem ao menos questionar seus instintos, vai em busca da realização de um ritual sombrio, sacrificando pessoas inocentes para servir de oferenda à entidade. A letra não se trata de uma adoração ou culto ao demônio, e sim uma história, como na literatura ou em um filme - assim como o nosso EP.

Alienação Animal foi produzido de forma totalmente independente. As artes de SantaPaz foram feitas pelo Carniça, a gravação e mixagem pelo Grotesco e a masterização pelo Bareabarea, grande amigo da banda. 

ZC - Como foi manter a banda e as rotinas nesses tempos pandêmicos? Afetou muito o trabalho? 

Inicialmente, ficamos por volta de 3 meses totalmente parados, sem ensaios e nem encontros da banda. Isso nos afetou muito, porque tínhamos a rotina de fazer um ensaio semanal e também estávamos fazendo várias apresentações seguidas, pelo menos duas por mês. 

Após esse tempo sem ensaios, foi preciso fazer uma reunião para realizar a gravação de um vídeo para um edital emergencial estadual, criado para ajudar os trabalhadores da cultura, e um outro para um edital de seleção de um evento cultural que já é tradicional aqui no Mato Grosso do Sul - o Som da Concha - feito pela primeira vez em versão on-line. Isso realizou um grande sonho dos três integrantes da Pata de Cachorro: estar em um palco onde já vimos grandes artistas tocando. 

Devido ao fato de estarmos todos os três trabalhando em home office, isolados desde o começo da pandemia, achamos seguro retomar um pouco à rotina de ensaios e gravações em nosso estúdio na casa do Grotesco. Sempre mantendo os cuidados em relação à biossegurança. 

Como também organizamos eventos undergrounds aqui em Campo Grande, outro impacto muito sentido foi o financeiro e, claro, o principal, que é a falta de fazer um show com as bandas parceiras e o público que apoia e movimenta o underground local. 

ZC - Quais os planos para o futuro? 

Para este ano, planejamos fazer a gravação do clipe de Satanás, lançar ao menos mais dois singles e produzir um clipe animado de uma das faixas do EP, que será também regravada. 

Também estamos trabalhando em mais composições e finalizando as músicas que já temos, para começar a trabalhar na produção do nosso primeiro álbum completo. Futuramente, quando as coisas se normalizarem, planejamos voltar a organizar eventos na cidade e tocar em outros estados. Como ainda não há previsão do fim da pandemia, estamos totalmente focados na produção de mais materiais para a Pata. 

ZC - Galera, aqui é um espaço livre. Façam seu jabá, agradeçam, xinguem. O espaço é de vocês.

Primeiramente, claro, vamos de jabá. Gostaríamos de lembrar que estamos com o kit do nosso EP Alienação Animal, que inclui a mídia física do EP, um chaveiro abridor de garrafas, um botton e dois adesivos. 

Temos também uma versão que, além desse kit, inclui uma camiseta exclusiva, com a estampa da capa, também criada pelo Carniça. Para comprar, é só falar com a gente em:


https://www.facebook.com/patadecachorro

https://www.instagram.com/patadecachorro/

https://www.youtube.com/c/PatadeCachorro


Siga a Pata de Cachorro!


Agora, algumas palavras finais e agradecimentos.


O sonho de fazer músicas é o que nos fez criar a banda, e é também o que nos motiva a procurar sempre evoluir musicalmente e trabalhar para melhorar a qualidade das nossas produções. 

Nosso estado, o Mato Grosso do Sul, é repleto de histórias de terror, histórias sombrias e, por contar com uma natureza selvagem e cheia de mistérios, alimenta nosso imaginário e nos inspira a expressar o horror presente em tudo isso. 

Nosso protesto é subjetivo, pois acreditamos que a maior força de domínio é a que faz o indivíduo odiar a própria terra natal e odiar a si mesmo, pois sem autoestima, ele tende a amar aquele que o oprime. 

Acreditamos que quebrar essa lógica é possível, trazendo uma valorização regional, mostrando de onde viemos e quem somos através de histórias. Só assim mostramos o quão incrível e fascinante pode ser a nossa terra de origem, e como podemos ser incríveis individualmente, sem alimentar a lógica opressora de diminuir as regiões periféricas, tornando-as menos interessantes.


A fundação da banda também foi motivada pelo movimento cultural underground existente em Campo Grande e, por isso, temos alguns agradecimentos: ao Adonis, primeiro baterista e um dos fundadores da banda; ao George, capitão do Holandês Voador, o eterno bar do underground campo-grandense; ao Duf; ao Enrique DxDxOx e à Terror Shop CG. 

Também agradecemos a todas as bandas parceiras, à galera do grupo Horror Punk Brasil, aos amigos que sempre dão uma mão pra gente e, principalmente, agradecemos aos que colam nos shows e sempre apoiam a gente.

Agradecemos também o convite para esta entrevista. Vida longa ao Zumbí Cangaceiro! 

Boçal, Carniça e Grotesco. 

25 de abril de 2021

Bermes: Até o Fim - Resenha

 E do cemitério diretamente para o fim dos tempos,  vamos falar um pouco sobre "Até o fim", disco da banda mineira Bermes, lançado em 2009.

Antes, uma digressão nem tão digressiva assim: é fantástico o fato da cena Horror Punk nacional ser tão diversificada. Cada banda e cada projeto assume características próprias e únicas, usando as influências na medida certa e imprimindo personalidade ao próprio som. Ninguém está tentando soar igual ao Misfits ou o Zumbis do Espaço.


Digo isso porque o Bermes bebe muito de outras influências. Aqui nesse álbum temos fortes toques de hardcore melódico, principalmente daquele tipo que se tornou popular no final dos 90 e começo dos 2000. 

Para comparação, aquele tipo de som que bandas como CPM22 faziam.

Mas logicamente as influências vão além, e até mesmo um pequeno toque de Charlie Brown Jr. se escuta em alguns lugares.

No baixo até mesmo influências de ska podem ser percebidas se escutadas atentamente. 

Tudo isso resultou em um som bacana.


O principal fator para isso é a estrutura das músicas. 

Mesmo com a produção embolada, dá pra perceber que os caras sabem compor. Todas as músicas tem várias partes diferentes, e a transição entre as diferentes partes é feita de forma orgânica e natural.Aliás, analisando agora mais atentamente, as composições são muito boas mesmo. 

O vocal da algumas desafinadas que em alguns momentos chega a incomodar, mas vamos ser sinceros: esse não é um disco de Symphonic Metal, e muito menos um disco do Dream Theater. Dentro da proposta e dentro do estilo da banda, acho que casa bem.

Uma produção menos imprecisa iria favorecer ainda mais a qualidade das composições da banda. Mas entendo que cobrar isso seria injustiça; os caras foram lá e fizeram, no melhor estilo punk que poderia ser feito.


Um ponto que deve ser destacado é a capa do disco.

Que capa maravilhosa! No melhor espírito "faça Você Mesmo", a capa entrega uma ilustração divertidíssima que transmite exatamente o conteúdo musical. Gostei demais dessa capa.


Concluindo, uma banda que foi lá e fez, com garra, coragem, e dentro da proposta, competência.

24 de abril de 2021

Pata de Cachorro: Satanás - Novo single

 Galera, do cemitério diretamente para a terra das pessoas atormentadas em busca da SantaPaz, vim aqui falar do novo single da banda Pata de Cachorro, banda de Campo Grande. A música se intitula Satanás, e foi lançada hoje, dia 24 de abril.

Trata-se de um lançamento que agrega muito à cena tamanha qualidade e competência apresentada.

Quem não ouviu ainda, segue o link do Youtube. Abaixo, minhas impressões.


Minhas Impressões


É uma música muito, muito boa. Uma verdadeira bordoada na orelha.

A composição é consistente, e é capaz de agradar não apenas fãs de Horror Punk, mas de mùsica pesada em geral, pois a mesma tem grandes elementos de Heavy Metal e até mesmo de Doom Metal. E tudo isso sem perder a raiz do Horror.

O vocal é forte, agressivo, raivoso - como tinha que ser.

Esse single deu muita água na boca pra esperar o disco completo. Se todas as músicas forem nesse mesmo nivel, já pode ser considerado um clássico absoluto.

Cumpre dizer que a música foi gravada de forma totalmente independente, o que agrega ainda mais valor, e o resultado foi uma produção muito digna.



23 de abril de 2021

BrainEaters: Meu Amigo Coffin Joe - Resenha

 

E hoje, do cemitério diretamente para o mundo das fitas demo gravadas por bandas underground, vamos visitar “Meu Amigo Coffin Joe”, da finada banda mineira BrainEaters.



Antes de continuar de fato analisando as canções cabe aqui uma palavra sobre o conceito de “demo” e como no horror punk esse conceito é tratado de forma um pouco diferente pela cena.

Os registros “demo” (de “demonstração”) são registros que as bandas gravam no intuito de terem um material de apresentação, especialmente para gravadoras e possíveis pessoas interessadas em apoiar o grupo de alguma forma. Nas décadas passadas, era uma das principais formas que os conjuntos tinham de ganhar visibilidade junto às gravadoras.

O mundo fonográfico mudou muito com a chegada dos anos 2000. A forma como as demos do passado são abordadas hoje deve ser diferente. E acredito que a cena Horror punk, tanto nacional quanto lá fora tem essa visão. As bandas de horror punk já lançaram e ainda lançam muito material nessa pegada, e isso é muito bom.

É muito bom escutar material lançado como “demo”; essas músicas, ainda que quase sempre com sérias restrições orçamentárias e de produção porca mostram muita energia, garra e pegada, o que muitas vezes se perde dentro de um estúdio, quando o profissionalismo as vezes acaba por deixar o som das bandas um pouco mecânico, preso, sem aquela energia que o horror punk pode ter.

Agora sim, vamos ao BrainEaters.

Temos aqui 4 faixas, gravadas em 2003.

A qualidade das gravações é muito boa. Não só não compromete, como consegue destacar todos os instrumentos de forma digna. Nenhum integrante foi prejudicado pela produção, e isso é de uma importância fundamental.

Musicalmente falando, o BrainEaters segue uma linha mais melodiosa, principalmente na voz. Uma voz limpa, com melodias distintas. Cumpre bem o papel, mantendo uma afinação constante e com uma dicção bacana.

Os backing vocal são discretos, mas bem pontuados e colocados em trechos onde a música realmente pedia. O instrumental já é um pouco mais agressivo, e acho que o contraste entre a guitarra mais nervosa com o vocal mais suave é uma característica que funciona muito bem.

Na música “O Ataque dos Vermes Malditos” eles potencializam essa dicotomia, e os resultados são maravilhosos.

A última música “Cowboys do Inferno” (seria uma referência ao Pantera?), a banda flerta com o country, mas mantendo as características anteriores.

Aliás, um destaque vai para a gaita tocada na introdução e ao longa da canção. Bem tocada, com notas precisas. A gaita talvez seja o instrumento mais mal utilizado de maneira geral na história da música. A pseudo “facilidade” de tocar o instrumento constantemente leva as pessoas a pensarem que é fácil encaixar uma gaita em estilos que não seja o blues, e isso tem gerado alguns momentos tenebrosos no horror punk, no mal sentido. Mas não aqui.

Nessa música a gaita aparece sob medida.

Também vale ressaltar o trabalho de bateria nessa canção, muito técnico e preciso.

Enfim, um material que tem altas qualidades, e sempre será o registro de uma banda competente, que tocava com energia e competência.


 

20 de abril de 2021

Polêmica: O caso Graves e a cena brasileira de Horror Punk

 Apesar de falar de um caso internacional, este artigo é um grande elogio á cena brasileira de Horror Punk.

O ponto de partida são as polêmicas envolvendo Graves, ex-vocalista da segunda fase do ícone do Horror Punk Misfits, e que causou um tipo de "cisma" na comunidade Horror Punk internacional.



Para quem não faz ideia do que eu estou falando, ha algum tempo o cantor já vinha realizando publicações em suas redes sociais em que apoiava alguns posicionamentos conservadores e ligados à extrema direita.

E mais recentemente, foi divulgado que o cantor seria testemunha de defesa em um caso envolvendo o movimento/organização conhecida como "Proud Boys", também ligado a extrema direita.

Isso provocou uma grande divisão nas redes sociais e comunidades de Horror Punk lá fora.

Muitos sairam em defesa abnegada ao cantor, ao passo que outros não suportam nem ouvir o nome .

Basta entrar nas principais comunidades norte americanas de Horror Punk no Facebook, Twitter e afins pra constatar que esse tem sido o principal - as vezes único - assunto da vez.

Mas...o que isso tem a ver com a Comunidade Horror Punk brasileira?

Simples.

Enquanto as comunidades gringas estão se descabelando por conta disso, a Comunidade brasileira soube não deixar-se "contaminar" por esse tv fama punk rock. 


Algum tempo atrás o cantor gerou certo desconforto e mesmo fúria ao deixar o nosso país as pressas, abandonando uma agenda marcada que deixou muita gente, produtores e público, na mão.


Logicamente, tivemos posts falando dessas 2 questões em alguns lugares, mas a produção de canções, divulgação e divulgação de material próprio continuou sendo o foco da galera e das bandas daqui. 


No entanto, esse zumbi aqui seria bem covarde se não entrasse no "x" da questão. 


Como lidar com isso?


Vamos lá.


1° Opção: Separar o artista da Obra


Não é a primeira vez que isso acontece no meio musical. Basta lembrar que alguns anos atrás o cantor Morrissey do The Smiths também assumiu posturas de alguma forma semelhantes. 

No punk, os caras do Ramones e até mesmo Sex Pistols viviam dando opiniões polêmicas. 

E podemos ir além no mundo da mùsica: Mozart era um Playboy arrogante, Vivaldi tinha uma relação estranha com menores de idade, Schumann roubava músicas da esposa e lançava em seu nome, Paganini era um egocêntrico insuportável.

 Mas ao mesmo tempo, eram excelentes compositores. Então existem aqueles que optam por separar a obra do artista. Tratar como entidades independentes. 

 Na questão Graves, eu acredito que essa opção talvez seja a menos radical. Afinal, ele foi responsável por uma fase da principa banda de Horror Punk da história, e até mesmo aqueles que preferem a fase clássica conseguem ver algumas boas canções ali. A carreira solo do cantor tem coisas interessantes, como o disco "Punk Rock is Dead" e "Web of Dharma".

E até onde meu inglês permite concluir, nenhuma das obras do cantor traz as mensagens de merda que ele apoia na vida real.

Logicamente, se ele escrever uma musica defendendo ultra nacionalismo, macho alfismo e todas as ideias imbecis que os Proud Boys pregam, deve-se tacar fogo no disco imediatamente. Consumir a obra do cara sem dar 1 puto pra ele então, aqui seria glória suprema.

2° Opção: Boicotar tudo do cantor, afinal, dar dinheiro e visibilidade para ele não deixa de ser um apoio a que ele continue defendendo essas mesmas posturas, inclusive para um público maior. Nesse caso, pare de escutar os discos, pare de seguir o artista nas redes sociais. Diminuir a visibilidade de alguém que prega ideias tortas as vezes é quase que uma obrigação.


Sim, existiria um terceiro caminho, de continuar apoiando o cantor irrestritamente, ou por não ligar merda nenhuma pra essas questões, ou (e nesse caso só lamentamos) se identificar com as ideias que ele defende.


Mas que "Horror Punk conservador" não deixa de ser no minimo bizarro, isso com certeza!

18 de abril de 2021

Análise Horror Punk: "Vozes na Minha Cabeça" - A Família Monstro

 Hoje, do cemitério diretamente para o cifra club e seu violão, tem uma análise de mùsica.

A mùsica escolhida  foi "Vozes na Minha Cabeça", presente no disco "Contos Macabros e Histórias de Horror", que a banda A Família Monstro lançou esse ano.

Escolhi essa música porque ela é um exemplo de composição bacana e bem feita dentro do gênero.

Vale dizer que toda a análise e mesmo a cifra da musica foram feitas por esse Zumbí Cangaceiro aqui, e não necessariamente é o que a banda realmente quis fazer! Inclusive, a cifra foi feita de ouvido, e se estiver errada, a culpa é exclusivamente desse morto vivo capenga.

Não conhece a mùsica?

Escuta aqui antes de continuar lendo:




Aqui a letra e a cifra:



Bom, mùsica ouvida, letra escutada, guitarra em mãos...vamos botar a mão na massa!

Panorama geral

Se trata de uma música rápida, pesada e direta. Não há espaço para frescuras aqui. A letra fala de um caso de distúrbio/psicopatia, de uma pessoa que mata seguindo vozes malucas em sua mente.
A velocidade da canção combina com o teor da letra.

Introdução

A mùsica toda se apoia em 4 acordes: E (mi maior), B (si maior), C#m (dó sustenido menor) e A (lá maior).
Para os músicos chatos de plantão, é uma progressão harmônica I-V-VI-IV.
A introdução começa na verdade com uma "pré-introdução", deixando os acordes soando soltos, um por um, como se quisesse dizer: "É isso aqui que vai ser!". 
E segue-se em seguida a entrada de fato da bateria e toda cozinha, para mais 2 repetições. 

Quando se fala em punk, costumou-se dizer que "3 acordes bastam" ... mas a verdade é que músicas construidas em cima de 4 acordes são bemmmmm mais comuns, ao menos no Horror Punk.

A Melodia Vocal

Após 2 repetições da sequência de acordes já com todos os instrumentos, a voz entra.
Não sei se foi intencional, mas como a harmonia começa na Tônica e se encerra na Subdominante (que na teoria musical é chamada de "Cadência Plagal"), gerando uma cadência inconclusiva, isso confere ao vocal uma certa melodia "tensa", que gera um impulso ao longo da mùsica que parece continuar indefinidamente, o que casa perfeitamente com o teor do que está sendo cantado. 

Afinal, é um cara muito doido fazendo reflexões que para uma pessoa comum soariam estranhas, e a combinação da Melodia Vocal com a harmonia passam isso muito bem!


"Ahhhh, ZC, eu DUVIDO que uma banda de Horror Punk pense em tudo isso na hora de compor"

Resposta: Claro que não pensam. Quando um músico domina determinado gênero, essas coisas fluem naturalmente. E é assim que a gente percebe quem manja mesmo do serviço!O estranho seria se os músicos tivessem que pensar em tudo isso antes de compor. Aí eu diria que falta vivência dentro do estilo.
Mas não é o caso aqui.
Os caras manjam dos paranauê!

Encerramento

Após a letra toda ser cantada, segue-se mais algumas repetições da sequência de acordes. É como se a banda por fim falasse: "Falamos que ia ser isso aqui, e foi mesmo".

Conclusão

Uma música extremamente simples, e essa é a grande força da canção. As vezes, menos é mais, principalmente quando falamos de Horror Punk.

A mùsica tem todos os elementos que ela precisava. O destaque vai para a bateria, que mesmo com o tempo minimo da mùsica apresenta pegada e uma serie de viradas rápidas e precisas.

É isso!

Agora, recomendo ir lá no link e ouvir mais uma vez!


17 de abril de 2021

Arte Horror Punk Brasil - 1

 Galera, do cemitério direto para as galerias de arte do mundo, hoje o Zumbi Cangaceiro aqui vem apresentar uma série de artes ligadas de alguma forma ao Horror Punk brasileiro.

Não tem segredo nem enrolação: Nessa seção teremos capas de discos, encartes, posters de filmes clássicos sempre citados nas letras...um pouco de tudo.

E inclusive você, leitor, se criar algum desenho, quadro, arte digital ligada ao Horror Punk, manda pra cá! 









16 de abril de 2021

Diabos Mutantes: A Filha do Açougueiro - Resenha



Poucas coisas me deixam mais felizes do que procurar informação sobre uma banda de Horror Punk e não achar quase nada.


Não, não é piada. Falo serio. Seríssimo.


É uma das magias da música UNDERGROUND.

E vou explicar porque.


Uma banda que gastasse uma grande quantidade de tempo, criatividade e recursos pra gravar algumas musicas ou mesmo um disco inteiro, e não se preocupasse as vezes nem em divulgar o line up da banda ou local de origem, no maintream seria condiderada uma banda no minimo desleixada.


Mas no underground, no Horror Punk, essa atitude, é uma mensagem clara que a banda está muito mais preocupada com o som,com a música, com o gênero, do que com imagem.


Comercialmente, é quase que um suicídio, mas como eu sempre digo: se voce quer sucesso e fama, não vai ser no underground que você vai encontrar essas coisas. Ou melhor, reformulando: no UNDERGROUND você vai encontrar garra, persistência e constância bem maiores que a frugalidade daquilo que é mais midiático.


O cenário underground e consequentemente o cenário Horror Punk é, acima de tudo, para quem acredita em uma cena, para quem quer ir além das modinhas, do glamour...o underground não é para os fracos não!


"Ok, ZC, mas o que isso tem a ver com o disco dos Diabos Mutantes?"


Resposta: Tudo!


Vamos lá então.


"A Filha do Açougueiro" é um disco de 2012, da banda Diabos Mutantes. Nem nas redes sociais oficiais da banda você vai achar mais do que isso!kkkkkkk!


 Eles são do Paraná, e a julgar pela ultimas atualizações da propria banda, a mesma se encontra em um hiato enorme. Talvez tenha acabado, ou talvez apenas com as atividades interrompidas por um tempo.

Como eu estou montando uma matéria grande sobre o histórico de algumas bandas da cena, não vou me alongar muito sobre o histórico do grupo.

Vamos então á sonoridade.


"A filha do Açougueiro" apresenta composições que podemos sim, dentro do gênero, classificar de "complexas".


Até hoje, muitas audições depois, eu fico impressionado com a quantidade de mudanças de ritmo, compasso, quebras e paradas que existem ao longo de todas as faixas.

Ao menos dentro do cenário nacional do Horror Punk, pelo que eu conheço, existem poucas bandas com uma sonoridade tão diversificada, ou com composições tão cheias de nuances.


É um som que fica em algum lugar entre o Horror Punk tradicional , o rockabilly e o psychobilly, mas com pausas e mudanças de andamento repentinas frequentes, o que confere ao som da banda uma originalidade e ao mesmo tempo estranheza bem peculiares.


É tudo muito bem feito. A gravação é bem direta.

Eu me pergunto o quão difícil deve ter sido para o baterista tocar e gravar essas músicas, uma vez que são tantas mudanças de andamento que com certeza não deu pra usar um metrônomo. 


Particularmente, não é o estilo de Horror Punk favorito aqui. Eu sou fã irremediável de uma sonoridade mais direta, de composições menos trabalhadas e até mais "toscas". As vezes, quando eu estava começando a me empolgar com um riff ou com uma levada, a banda mudava o andamento e era como levar um copo de água fria na cara. É um disco que eu escuto em doses homeopáticas, aos poucos.


Mas eu entendi perfeitamente a proposta da banda, e acho que dentro da proposta, os caras mandaram bem demais.


Essa diversidade sonora é importante, e felizmente, eu acredito que o cenário Horror Punk Brasileiro é até mais diversificado sonoramente do que a maioria das cenas lá fora (com destaque para a cena Horror Punk russa, que produz coisas originalissimas!).


Destaques? 

Acredito que as músicas "A 7 Palmos", "Brasileiro Assassino", "Psicótico" e "Soturno" sejam as mais emblemáticas.


As letras são extremamente bem humoradas, sem serem engraçadinhas, o que é louvável.